"Em toda a infância houve um jardim. Isto é coisa de poetas."

Augustina Bessa-Luís

domingo, 25 de outubro de 2009

"Diário de Bordo": Semana 6

“A raiz da palavra planear, aponta-nos para flexibilidade e multiplicidade de possibilidades e não para a unidireccionalidade.”
In: “Planear: Visões de Futuro”, Teresa Vasconcelos


E chegamos à semana "meia dúzia"…
Se consultarmos um dicionário veremos que à palavra “planear” é atribuído o significado de fazer um plano…de projectar.
Segundo Teresa Vasconcelos, “(…)planear em jardim-de-infância será delinear o projecto que envolve todos os que nele estão implicados, no qual se faz uma previsão do(s) seu(s) possível(eis) desenvolvimento(s) em função de metas específicas.” A Educação Pré-Escolar (EPE) tem um conjunto de Orientações Curriculares que, segundo a mesma autora, “não constituem um programa. São referências de apoio ao educador para que a sua prática pedagógica tenha sentido e proporcione aprendizagens significativas às crianças, qualquer que seja o modelo pedagógico utilizado.”

Em cada semana existe um conjunto de situações que são planificadas. Contudo, na Educação Pré-Escolar, muitas vezes a planificação serve afinal para percebermos “como” não fizemos, ou o que não fizemos (porque se fazem outras coisas). É que, frequentemente, as crianças da EPE (e as dos outros níveis de ensino também) oferecem oportunidades de trabalho que não há “manual escolar” que seja capaz de aguentar. Por isso, muitas vezes, as metas são atingidas por caminhos que o adulto, inicialmente, não imaginava percorrer... E a espontaneidade das crianças obriga-nos a reprogramar o nosso “GPS educativo”.

Cada dia que passa, a nossa “Hora das Novidades” vai-se tornando cada vez mais enriquecedora. Nunca tendo servido apenas para o reencontro no início do dia, desenvolver a oralidade ou criar um à vontade na exposição em grande grupo, nestes dias este momento tem intensificado a possibilidade de “viajarmos” por tantos assuntos e lugares que por vezes até nos “perdemos” no tempo… É então que chega a dona Alice e diz: “Meninos, está na hora do lanche.” Um lanche que ela prepara com todo o carinho e em que nos “aquece” os pacotes de leite “branquinho”.

Algumas pessoas que estejam a ler este post, com tanto “leva e traz”, de casa para a escola e da escola para casa, podem questionar sobre as medidas de prevenção da tão badalada Gripe A. Como é óbvio, não estamos interessados em ser um foco desta gripe, ou de qualquer outra do abecedário. Por isso, desde o início que intensificamos a criação de hábitos de higiene, de comportamentos de “protecção” e, numa escola em obras (paradas desde o início das aulas), até conseguimos criar o solicitado espaço para “Sala de Isolamento”. Numa sala de Jardim de Infância a partilha de objectos e de espaços é inevitável e, mesmo não descurando este problema, não pretendo assentar o meu Projecto Curricular de Turma no plano de contingência…

Assim sendo, voltemos às ”novidades” desta semana. Na segunda-feira o Filipe e o Ricardo traziam a mesma novidade… Mesmo não se tendo encontrado, ambos tinham ido visitar o Zoo da Maia no dia anterior. O assunto “animais” foi logo discutido e outras crianças contaram as suas aventuras neste Zoo e no Zoo de Lisboa. “Lisboa fica longe daqui….demoramos muitas horas a chegar.”- disse o Miguel (5 anos).
Aproveitamos para ver, em DVD, fotografias de uma visita à Maia em 2005. No final não sei o que mais agradou às crianças…se os animais, ou reconhecerem irmãos e/ou amigos que agora já andam no 1º e 2º Ciclos.
Outros dias se seguiram e outras novidades também. Um carrinho bege e uma mala transparente e incolor também serviram de mote para novas descobertas. “Incolor é como ímpar. Ímpar não tem par e incolor não tem cor.” (André, 4 anos)
O Filipe trouxe cinco fantoches de dedo para ficarem na escola, porque em casa ele não tem “aquela coisa onde se esconder”. Uma história improvisada em que o Capuchinho Vermelho, que ia levar bolotas ao Rei, acompanhada pela ovelha “Xoné” e pela rã verde, encontrou um vampiro na floresta, fez a delícia dos protagonistas e do público.
Os carrinhos, e outros objectos, (pares/impares, quanto são, quantos faltam para…, conjuntos de…) e a marcação da passagem do tempo no quadro “O dia de hoje”, (padrões repetitivos) continuam a ser motivo para grande operações matemáticas.
As canções vão servindo de “banda sonora” a algumas das “novidades”… “Tenho um cão, tenho um urso e um boneco...”, “O vento é maluco, mas é bom rapaz…”, a “Galinha turureca” e até “A minhoca foi à praia” foi adaptada à Barbie de mini-saia que a Ana trouxe.
A Jéssica trouxe o computador Magalhães, que era do irmão e que agora já anda no 2º Ciclo. Foi uma festa o “jogo das bolinhas”… e uma delícia ouvi-la explicar aos amigos como funcionava o Magalhães…”Foi o meu pai que me ensinou…temos de carregar aqui para não ficar em pause.” (4 anos)
O Gonçalo A. trouxe um desenho que pintou com a irmã,e do outro lado da folha havia um por pintar que fotócopiamos para os amigos pintarem também.
O Pedro mostrou as calças novas que a mãe lhe comprou em Barcelos, a Vera um porquinho cor-de-rosa e o Afonso um avião a jacto.
O Miguel trouxe um urso polar de peluche que nos fez viajar pelo globo terrestre e pelo planisfério.
O dinossauro do Gonçalo A. levou-nos até aos animais carnívoros e herbívoros e à sua alimentação… E o espanto do Miguel quando percebeu que “as pessoas também têm carne” fez-nos folhear três livros…um sobre mamíferos e dois sobre o corpo humano.

A instabilidade climatérica tem-nos criado situações de discussão sobre estas coisas do tempo. A chuva e o Sol em simultâneo de quinta-feira fez-nos acreditar que poderíamos ver um arco-íris, mas não vimos…Na hora do lanche os nossos amigos do 1º e 4º anos disseram-nos que o tinham visto da janela da sala deles… Da próxima vez vamos espreitar em todas as janelas…

Mas se de manhã não vimos o arco-íris, à tarde ouvimos a trovoada… e a discussão sobre este fenómeno instalou-se:
“O Sol aquece e a chuva arrefece.” Filipe, 5 anos.
“O mar enche as nuvens de água.” Gonçalo F., 4 anos.
“O ar sopra as nuvens e elas abanam… e podem cair.” Filipe, 5 anos.
“A chuva é que cai…as nuvens ficam lá em cima, cada vez mais pequeninas.” Gonçalo F., 4 anos.
“Depois as nuvens batem umas contras as outras e fazem trovoada.” Miguel, 5 anos.

E a trovoada inspirou os nossos desenhos:



Um dia destes vamos “fazer” uma tempestade na sala…
Mas a trovoada não foi o único fenómeno da semana…Vejam só o tamanho desta noz que o Ricardo trouxe…







Esperamos que não tenha sido a trincar nozes deste tamanho que o Ricardo já perdeu três dos seus dentes de leite:
-Este tirei sozinho…com a língua empurrei e ele caiu. Agora vou ter dentes de adulto. A Beatriz (a irmã de quase nove meses) já tem dois dentes de leite. A fada-dos-dentes deu-me duas moedas. Eu pus as moedas no meu porquinho. Quando ele estiver cheio vou comprar uma pistola que dá tiros de tinta. – disse o Ricardo (5 anos)

E para ter dentes bonitos é necessário beber muito leite, pois o leite tem cálcio que ajuda os nossos dentes, e os nossos ossos, a ficarem fortes…Olhem que até as bruxas precisam de Cálcio … :o)




Mas a semana, mesmo no seu final, teve mais um momento fantástico…O Vítor, 3 anos, sem ajuda de outrem, pegou no cartão do seu nome e tentou copiar as letras para o seu desenho, pela primeira vez. No final da sua tarefa veio-me mostrar a folha. Quando se sentiu congratulado pelo resultado, num misto de espanto e excitação, não resistiu a exclamar:
-Já sei fazer as letras do meu nome!!!


*****Boa Semana Amigos*****

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