"Em toda a infância houve um jardim. Isto é coisa de poetas."

Augustina Bessa-Luís

domingo, 7 de novembro de 2010

"Vamos poupar para oferecer um presente a um amigo"

Tudo começou durante uma conversa matinal, quando o Gonçalo já chegou à sala com as calças sujas nos joelhos, depois de uns pontapés na bola com os amigos na erva humedecida pelo orvalho. Esta é uma situação que se tem repetido nos últimos dias e a Jéssica demonstrou alguma preocupação quanto aos gastos que a mãe do Gonçalo terá de fazer se ele continuar a sujar as calças repetidamente.
A partir daqui surgiu uma conversa sobre gastos e poupanças. Afinal para que serve o dinheiro e como pode ser ganho?
Como é que os Pais ganham dinheiro e para que o usam, foram algumas das questões discutidas. Os Pais não gastam só dinheiro quando vão ao supermercado, ou lhes compram um presente. Os Pais gastam dinheiro quando em casa se abre uma torneira para encher um copo de água, se acende a luz no quarto ou se vai dar um passeio de carro. O Afonso quis saber como é que eu ganho dinheiro e demonstraram um misto de espanto e satisfação quando lhes disse que ganhava dinheiro quando “BRINCAVA” com eles…
As palavras “crise” e “poupar”, actualmente, fazem parte das conversas familiares. Estes conceitos são também discutidos pelas crianças e desde muito pequenas é importante explicar-lhes a necessidade da poupança e ajudá-las a perceber que devem ter algum dinheiro guardado para alguma emergência (como por exemplo o arranjo ou a substituição de um brinquedo estragado) e devem também poupar dinheiro para, mais tarde, comprarem algo que necessitam ou desejam.
A Jéssica lembrou que quando as pessoas não têm dinheiro podem ir ao Banco. Expliquei-lhes que o Banco só nos dá dinheiro se antes lá tivermos posto algum na “nossas caixinha” … E que por vezes nos pode emprestar, mas que depois temos de devolver … e como foi emprestado, quando devolvemos, o Banco pede sempre um “bocadinho” mais do que aquele que empresta.
Geralmente, quando encontro algo “baratinho” que acho que, durante o ano, pode ser útil em alguma actividade compro e espero uma oportunidade para utilizar. Foi o que aconteceu com os mealheiros que já há algumas semanas estavam guardados numa caixa para um eventual projecto de poupança.
As crianças criaram a oportunidade, por isso bastou “abrir a caixa” e as coisas foram, naturalmente, acontecendo.
Todos têm em casa um mealheiro (ou um “migalheiro” como a maioria lhe chama…ou um “peteiro” como algumas avós o apelidaram) e todos têm moedas … ou quase todos, pois o Afonso diz que tem “zero moedas”.
Inicialmente a ideia era poupar para comprarmos um brinquedo, no Natal, para oferecer a uma criança que de outra forma não o poderia ter. Mas esta noção de ajudar alguém que as crianças não conhecem, nesta faixa etária, é um pouco abstracto. E o Vitor disse:
-Eu gostava era de juntar para comprar um presente para mim…
-E o que compravas tu? – perguntei-lhe.
-Um Prorshe…de verdade.
A dona Alice que se tinha juntado a nós nesta conversa, quando veio contar o número de crianças que almoçariam nesse dia na Cantina, disse:
-Ó Vitor e se poupasses para dar um presente a um amigo?
Bingo!!! A dona Alice tinha dado um passo importante para a finalidade que se poderia dar ao dinheiro que cada um irá poupar.
A ideia agradou de imediato ao Vitor que escolheu o Gonçalo como o amigo a quem vai oferecer um presente no Natal. Como havia mais dois mealheiros, eu e a dona Alice também iremos entrar no “Jogo da Poupança” e o Afonso fez recair a sua escolha em mim. As escolhas foram-se sucedendo de uma forma espontânea...
Estávamos ainda no processo das escolhas e o Vitor perguntou ao Gonçalo qual a prenda que ele gostava de ter:
- Um Faísca Mcqueen azul. – respondeu o Gonçalo.
-Mas isso é muito “caríssimo”!!! - disse o Vitor já a pensar numa forma de poupar – No sábado vou arrumar o meu quarto e quando a minha mãe acordar vai-me dar duas moedas.
O Afonso pensa oferecer-me uma boneca ou uma Hello Kitty“É disso que as meninas gostam”, disse ele.
Na sexta-feira lá foram os mealheiros para casa e as “regras” deste jogo, juntamente com algumas dicas... Ver aqui e aqui...
As poupanças poderão ser feitas a partir de “pagamento” de pequenas tarefas que as crianças possam executar para ajudar os Pais, ou por troca de algo que elas abdiquem, como por exemplo uma chiclete quando vão ao Café ou de uma “bola” da máquina, guardando no mealheiro essa moeda. 
Uma das regras chave deste “jogo” é que nenhuma criança poderá ganhar uma moeda se não a merecer realmente.
Mais perto do Natal, cada criança deverá trazer o seu mealheiro (cujas chaves ficarão na sala do JI) para que faça a contagem das moedas que economizou. Depois de contas feitas tentaremos ir a uma loja em que cada uma terá, consoante as suas poupanças, de escolher um brinquedo para oferecer ao amigo ou amiga.


Nota: Pais, vamos tentar que no segundo período cada criança poupe para si e que no terceiro período cada uma poupe para uma causa solidária.




2 comentários:

  1. Olá cristina,

    Fantástica esta proposta e um pouco em sintonia com o que tema contecido na Sala Fixe!
    Andamos intrigados com a palavra Crise e resolvemos investigar, mas, para já, ainda não passamos daí porque isto aconteceu na semana passada.
    Vou aproveitar algumas dicas, se o projecto se vier a desenvolver...
    Parabéns pela inovação e pelo dinamismo.
    Continuação de bom trabalho e boa semana!

    Bjs, Juca e Sala Fixe

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  2. Olá Juca...foi também de uma forma espontânea que este tema surgiu na nossa sala e como bem sabemos quando as crianças se interessam por algo não há "metas" que as segurem :o) "Fixes" poupanças para vocês...Nós vamos dando notícias por aqui...
    Beijinhos

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